Iniciativas inovadoras, sejam positivas ou negativas, sempre nos trazem consigo uma vantagem, uma nova perspectiva, que nos permite tomar distância de nossa costumeira observação, com a chance de ver tudo, seja novo ou velho, desde um outro lugar. É exatamente esta iniciativa que permitiu à Orquestra do Theatro São Pedro mais uma apresentação revigorada diante de seu público: se por um lado seu repertório geralmente diversificado em estilo e tempo mantém um certo frescor em cada concerto, confiar sua direção ao cravista Fernando Cordella ampliou suas possibilidades. O resultado sonoro, e essa é a mais escandalosa novidade, veio cheio de articulações e timbres remetentes ao que chamaria perigosamente de "Música Antiga", coisa rara de se ver por aqui, e que portanto nos convida a uma audição atenta aos detalhes.
A primeira peça do cocnerto, Suíte da Ópera Almira (Häendel, 1705), foi executada timidamente, embora com gradativa comodidade, dando a impressão de que a orquestra entrou aos poucos no concerto. Principalmente na Overture notei diversas falhas nas entradas, bem como as arcadas irregulares, às quais imagino que já começa a resignar-se o frequentador do Theatro. Entretanto, alguns movimentos foram executados de forma interessante, com destaque para a Courante, Bourré e a Gigue que encerra a suíte.
A Abertura da ópera Jodelet (R. Keiser, 1726), obra claramente mais acessível, foi tocada com muita desenvoltura e competência, e esteve bem situada no programa do cocnerto, seja pelas razões históricas esclarecidas pelo maestro antes de sua apresentação, seja funcionando como Intermezzo entre a primeira suíte e o concerto de Telemann. Uma impressão agradável que me ficou dessa abertura foram os interessantes efeitos de crescendo e decrescendo, que imagino inusitados para a época da composição e que foram espirituosamente executados pelo grupo.
O Concerto em Mi menor para flauta doce e flauta transversa (Telemann, 1717) esteve um pouco aquém do desempenho geral da orquestra neste concerto, o que foi agravado pela certa ingenuidade dos solistas. Além disso, o desleixo pesante do acompanhamento marcaram negativamente a peça.
O fechamento do concerto, como era de se esperar, se deu com Música Aquática (Häendel, 1717). Confesso que acho a suíte um pouco cansativa em termos de forma geral. As peças que a compõem, entretanto, são individualmente mais interessantes. Na atuação da orquestra, destaque para o primeiro oboé e para o fagote, impecáveis em expressividade e articulação. Se pôde observar claramente que todo o grupo estava a vontade durante a execução.
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