terça-feira, 19 de maio de 2009

OCTSP - 18/05/09. Música Aquática: 250 anos da morte de Häendel

Iniciativas inovadoras, sejam positivas ou negativas, sempre nos trazem consigo uma vantagem, uma nova perspectiva, que nos permite tomar distância de nossa costumeira observação, com a chance de ver tudo, seja novo ou velho, desde um outro lugar. É exatamente esta iniciativa que permitiu à Orquestra do Theatro São Pedro mais uma apresentação revigorada diante de seu público: se por um lado seu repertório geralmente diversificado em estilo e tempo mantém um certo frescor em cada concerto, confiar sua direção ao cravista Fernando Cordella ampliou suas possibilidades. O resultado sonoro, e essa é a mais escandalosa novidade, veio cheio de articulações e timbres remetentes ao que chamaria perigosamente de "Música Antiga", coisa rara de se ver por aqui, e que portanto nos convida a uma audição atenta aos detalhes.

A primeira peça do cocnerto, Suíte da Ópera Almira (Häendel, 1705), foi executada timidamente, embora com gradativa comodidade, dando a impressão de que a orquestra entrou aos poucos no concerto. Principalmente na Overture notei diversas falhas nas entradas, bem como as arcadas irregulares, às quais imagino que já começa a resignar-se o frequentador do Theatro. Entretanto, alguns movimentos foram executados de forma interessante, com destaque para a Courante, Bourré e a Gigue que encerra a suíte.

A Abertura da ópera Jodelet (R. Keiser, 1726), obra claramente mais acessível, foi tocada com muita desenvoltura e competência, e esteve bem situada no programa do cocnerto, seja pelas razões históricas esclarecidas pelo maestro antes de sua apresentação, seja funcionando como Intermezzo entre a primeira suíte e o concerto de Telemann. Uma impressão agradável que me ficou dessa abertura foram os interessantes efeitos de crescendo e decrescendo, que imagino inusitados para a época da composição e que foram espirituosamente executados pelo grupo.

O Concerto em Mi menor para flauta doce e flauta transversa (Telemann, 1717) esteve um pouco aquém do desempenho geral da orquestra neste concerto, o que foi agravado pela certa ingenuidade dos solistas. Além disso, o desleixo pesante do acompanhamento marcaram negativamente a peça.

O fechamento do concerto, como era de se esperar, se deu com Música Aquática (Häendel, 1717). Confesso que acho a suíte um pouco cansativa em termos de forma geral. As peças que a compõem, entretanto, são individualmente mais interessantes. Na atuação da orquestra, destaque para o primeiro oboé e para o fagote, impecáveis em expressividade e articulação. Se pôde observar claramente que todo o grupo estava a vontade durante a execução.